Atlético-MG

A coragem de Levir contra o paternalismo do futebol brasileiro

“Concentração no futebol tem de ser abolida a partir de dezembro de 2014, porque meu mandato acaba no fim do ano. Aí eu não vou ter de sair de madrugada atrás de jogador. Se soltar, meu amigo, a torcida vai pegar um monte na rua, na farra, na putaria… Eu sou a favor do seguinte: todo mundo concentrado com namorada, mulher, amante, puta ou o que for dentro do quarto. Se bem que mulher enche o saco do cara também, né? Tem isso. Aí o jogador vai reclamar: ‘Trazer minha mulher pra cá bem na hora que eu tenho paz? Puta que pariu, que presidente escroto!’”

O depoimento acima, mantidas as licenças tipicamente desbocadas, foi concedido ao blog por Alexandre Kalil no fim do ano passado. O presidente justificava a existência de concentração no Atlético, que por diversas vezes, ainda sob o comando de Cuca, chegou a antecipar o confinamento dos jogadores em até dois dias antes de cada jogo.

Na mesma semana em que Ronaldinho Gaúcho se despediu de Belo Horizonte, o técnico Levir Culpi revogou a lei de Kalil e aboliu o regime de concentração na Cidade do Galo.

Não se trata de pioneirismo. O Internacional, de Abel Braga, já havia feito o mesmo no começo do ano sob influência dos grandes clubes europeus. Diferentemente de Portuguesa, Vasco e Botafogo, o fim da reclusão dos colorados não foi fruto de um motim por salários atrasados, mas sim de uma decisão que partiu do clube.

E, diferentemente de Abel no Inter, Levir não conta com o respaldo da diretoria atleticana. A medida é um risco que resolveu bancar. Afinal, jogadores se cansaram de jogar dominó e videogame uns com os outros enquanto poderiam estar com suas famílias – ou fazendo o que bem entenderem.

Concentração não ganha jogo, e com isso o próprio Kalil concorda. Mas o excesso na privação de liberdade do elenco, por outro lado, pode ser desastroso. Em 2012, muitos jogadores torceram o nariz para a concentração antecipada de Cuca. Para alguns, foi o fato determinante para a perda do título brasileiro.

Apesar dos bons resultados, o técnico não cedia e chegou até a bater de frente com Ronaldinho. Diego Tardelli, outra referência do time, também não suportava mais o regime fechado de Cuca no ano passado. Ajudou a convencer Levir a dar o voto de confiança.

O time venceu seu primeiro compromisso sem concentração, diante do Atlético-PR. O Inter, que não se concentra desde março, briga por título no Brasileiro. Qualquer tentativa de relacionar confinamento a taças e vitórias é estupidez, assim como associar futuras derrotas do Atlético à falta de concentração.

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Levir trabalha com a realidade. Sabe que concentrar não ganha nem nunca ganhou jogo algum. E que os jogadores podem render melhor longe de um ambiente que remete aos tempos de amadorismo do futebol.

Por décadas os clubes pressupõem que prender jogadores é a única solução para afastá-los da noite e das farras. E há, sobretudo entre dirigente e torcedores, quem acredite cegamente nisso. Na verdade, esse paternalismo, essa mania de se comportar como babás, é que os fazem reféns da própria falta de profissionalismo.

A superproteção cria boleiros mimados desde a base, acostumados a ter tudo na mão, cientes de que seus deslizes serão sempre computados na cartilha dos patriarcas, e não na responsabilidade que deveriam assumir como qualquer outro trabalhador.

Que, ao contrário do caso Jô, “desaparecido” depois do último jogo, torcedores não tentem culpar o técnico por eventuais pisadas de bola dos jogadores. Cada um responde por sua conduta e por seus atos.

A grande, porém tardia, sacada de Levir é óbvia: o atleta deve ser tratado como um profissional qualquer, não como popstar. Médicos, pilotos ou engenheiros não precisam de concentração para cumprir suas obrigações. Jogadores, muito menos.

ATUALIZAÇÃO – 16h29

Em contato por meio da assessoria de imprensa, a diretoria do clube afirma que deu aval à medida de Levir Culpi, embora o diretor de futebol Eduardo Maluf não acredite no êxito da política adotada pelo técnico.

ATUALIZAÇÃO 2 – 13/11

Na final da Copa do Brasil e ainda na briga pelo título brasileiro, o Atlético acumula 13 vitórias e um empate em jogos como mandante desde o fim da concentração na Cidade do Galo.


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Atlético-MG, Ronaldinho

O trono de Ronaldinho está vago. E não há ninguém na fila para ocupá-lo

Treino 06.06.2014

Se um dia a profecia de Alexandre Kalil se materializar na forma do tão sonhado estádio atleticano, o convidado de honra para cortar a fita vermelha certamente será Ronaldinho Gaúcho.

Toda vez que o Atlético disputar uma final, ele certamente estará na primeira fila da tribuna de honra. Toda vez que o atleticano comemorar o aniversário da primeira Libertadores, certamente se lembrará do craque que mudou seu destino.

Comparado a outros ídolos alvinegros, como Dario, Reinaldo, João Leite e Marques, Ronaldinho teve pouquíssimo tempo de casa. Dois anos e dois meses, porém, foram suficientes para torná-lo maior que todos os outros. Pela conquista da América, pela projeção internacional emprestada ao Atlético e pelo resgate institucional de um clube até então desacreditado.

Ronaldinho apresentou ao torcedor atleticano o que há de melhor no futebol – e o fez se acostumar com o espetáculo de alto padrão. Lampejos do que havia sido no Barcelona despertaram momentos de verdadeira magia no Horto, dadas as sucessivas desilusões com times medíocres e medalhões desalmados.

Esse é o maior legado da estrela, que joga um peso enorme sobre o clube e principalmente sobre a próxima diretoria. O Atlético de Alexandre Kalil não se preparou para a sucessão de Ronaldinho.

Não significa contratar um nome consagrado, até porque a chegada de R10 foi o acaso de uma aposta pessoal e arriscada do presidente, que, depois de tantas cartadas em vão, acertou logo com aquele que se tornaria o maior jogador da história atleticana.

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Tardelli é ídolo. Victor, idem. Embora não tenham o tamanho de Ronaldinho, servem de alento para uma geração de torcedores que por muitos anos careceu de nomes dignos de aplauso na arquibancada.

O vácuo deixado pela saída do astro-mor é técnico. Não há jogador no elenco atual que crie, que seja capaz de inventar algo diferente ou de fazer o time jogar. Fato evidente desde o fim da Libertadores, quando as condições físicas de Ronaldinho já davam sinais de esgotamento.

A renovação do contrato do craque, mentor de Messi e Bernard em outras épocas, deveria ter sido atrelada ao processo de lapidação de um novo camisa 10. Ou mesmo de um volante criativo. Hoje, Levir Culpi não dispõe de nenhuma dessas peças. Guilherme é atacante de origem. Maicosuel e Luan jogam pelos lados.

Quando chegou à Cidade do Galo, Ronaldinho disse que um de seus objetivos era elevar o Atlético a “outro patamar”. E o elevou ao ponto que nenhum atleticano poderia imaginar. Mal acostumado à genialidade passageira do craque, o torcedor, ao procurar por seus dribles e sacadas primorosas, verá a ficha cair.

O problema não é o adeus do ídolo, mas a constatação de que futebol bonito e resultado dificilmente entoarão na mesma sinfonia sem a batuta de Ronaldinho no gramado do Horto.


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Atlético-MG, Ronaldinho

Parabéns, Ronaldinho

O craque faz 34 anos.

O futebol já não é o mesmo do Barcelona e, ultimamente, está aquém das últimas duas temporadas pelo Atlético.

Mas essa talvez seja a fase mais autêntica e polivalente de toda sua carreira.

Merece os parabéns, porque:

Ele ostenta…

…Mas, desdenhando das aparências,  se veste da maneira que lhe convém

É amado pelos gringos

Até por Maradona

Ainda engana bem…

Não poupa nem os mais velhos

Tem escritório na praia

Sempre gostou de um carnaval

Com seu bonde a tiracolo

Apita o rachão da molecada no sítio

ronaldinho juiz

Faz uso de técnicas do Spider…

…E das artes marciais

Ele canta

E dança!

Agrega valor no camarote

Não se esquece dos amigos

Muito menos das amigas


 

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Atlético-MG, Cruzeiro, Libertadores, Mineirão, PLACAR, Ronaldinho

Isto é Kalil

A edição de dezembro da revista PLACAR, que chega às bancas nesta sexta-feira, traz um perfil de Alexandre Kalil. Durante a entrevista, além de falar sobre Mundial de Clubes e Libertadores, o dirigente tocou em vários assuntos, incluindo os planos para seu último ano de mandato à frente do Atlético:

CRUZEIRO CAMPEÃO BRASILEIRO

Infelizmente, desgraçadamente, tristemente, eu não senti nada quando o Cruzeiro foi campeão brasileiro. Depois da Libertadores, eu esqueci que o Cruzeiro existe. Isso é um desastre íntimo para mim. E o Cruzeiro só foi campeão brasileiro porque o Atlético ganhou a Libertadores. Eles ficaram com ódio da festa que a gente fez na cidade. No fim do ano, vamos virar pra eles [cruzeirenses] e dizer: “Nós somos campeões do mundo”.

EXTINÇÃO DO DEPARTAMENTO DE MARKETING

Marketing no futebol é bola dentro da casa. Se a bola entrar naquela casinha, você vende até Modess pra homem. É só colocar o escudo do Atlético. O departamento de marketing tinha 18 pessoas, dava um prejuízo de 4 milhões de reais por ano. Não foi desmanchado porque eu acho feio e bobo, não. Marketing, pra mim, é aquela página de jornal [anúncio comprado depois do título do Cruzeiro]. Porque isso alegra a torcida.

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MARKETING DO RIVAL

O marketing do Cruzeiro trouxe o Júlio Baptista dentro de um carro forte e ele acabou o Campeonato Brasileiro no banco. O que você faz com um marketing desses? Tem que matar o filho da p… que fez isso.

PROGRAMA DE SÓCIO-TORCEDOR

O Cruzeiro está com um elefante branco na mão [Mineirão]. Vai ter que vender ingresso a preço de banana e botar sócio-torcedor pra dentro, senão não vai encher. Aquilo lá vai falir. Essa é a realidade do sócio-torcedor. Ou você acha que eu não tenho fila pra ter sócio-torcedor aqui no Atlético?

MINEIRÃO x INDEPENDÊNCIA

Eu jogo no Mineirão a hora que eu quiser, por edital. No Independência, o Cruzeiro só joga se eu deixar. No Mineirão mando eu também, igualzinho ao Cruzeiro. Eu estou aberto a negócio [com a Minas Arena]. Desde que não seja negócio indecente. O edital já era ruim. Mas o contrato que eles fizeram é ainda pior. Então, eu prefiro o edital.

ESTÁDIO PRÓPRIO PARA O GALO

Nós [da diretoria] temos conversado e muito sobre isso. Vieram me procurar, sabendo do potencial da torcida do Atlético, para um projeto de estádio em BH. Mas na minha gestão não dá mais tempo. Quero bolar um projeto e deixar para o próximo presidente fazer.

OUTRAS MODALIDADES NO CLUBE

Acabei com tudo quando assumi, porque era torneira aberta por todo lado [foi diretor de vôlei na época da gestão do pai, Elias Kalil]. Outro dia eu estava caminhando pela praia de Copacabana e vi lá: “Campeonato Mundial de Beach Soccer. Entrada gratuita”. Nem se me pagar eu entro pra assistir essa chatura. A Globo inventa essas merdas pra ter notícia e enfiar na gente domingo de manhã. Ninguém quer ver, porque basquete é horrível, vôlei é uma merda.

Breiller e Kalil

RONALDINHO LIGHT?

Ele gosta de bola. Tem uma pelada nas folgas. De futevôlei. ‘Ah, é churrasco, mulher, puta…’ Não, senhor! O que ele tem é uma turma de futevôlei na quadra de casa.

A ESTÁTUA PROMETIDA

Isso é conversa de Ronaldinho. Deixa ele cobrar. Eu ia imaginar que seria campeão da Libertadores? Prometi um monte de coisa que não cumpri. Quem merece estátua aqui, já tem.

O BICHO PAGO AO RONALDINHO É MAIOR QUE O DO RESTANTE DO ELENCO?

Sobre isso eu não entro em detalhes. Se quiser, ele pode falar. Mas o Ronaldinho não tem um privilégio que o Lucas Cândido não tenha no Atlético. E outra: o Ronaldinho não liga pra salário, em dia ou não. Isso é uma grande bobagem.

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ARBITRAGEM BRASILEIRA

Tá excelente, porque se eu falar qualquer coisa vão me roubar. Então deixa do jeito que tá. Na Copa do Brasil foi um escândalo. Eu protocolo uma carta contra um árbitro de Goiás, ele faz aquilo que fez no jogo contra o Botafogo e é premiado na outra rodada para apitar Flamengo x Corinthians. Peraí! Isso é bater na cara da gente. Eu tô calmo, tô bonitinho, tô beleza, mas não vem bater na minha cara, não, uai.

HOMEM DE APENAS UM REMORSO

Só me arrependo de uma coisa no futebol até hoje. No dia em que eu critiquei o Super Nosso [propondo boicote da torcida depois da apresentação do cruzeirense Dedé]. Peço desculpas, porque o supermercado fica do lado da minha casa e agora eu não posso mais fazer compras lá.

Essas e outras frases de Kalil, na PLACAR de dezembro.

 


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Atlético-MG, Libertadores, Ronaldinho

O Galo dos milagres

Superstição é uma palavra sagrada para o Atlético. 13 é o número do Galo. E, há 13 anos, o clube não disputava a Libertadores. Estreou com o pé direito justamente em 13 de fevereiro, vencendo o São Paulo por 2 x 1. O palco era o Independência, onde o time seguiu invicto e que também tem 13 letras. Muito tempo atrás, o ilustre alvinegro Roberto Drummond já havia eternizado a máxima de que ser atleticano é “torcer contra o vento”. Mas, dessa vez, os ventos conspiravam para que 2013 se convertesse, de fato, no ano do Galo.

Não importava o passado: time que encantava, mas não levava, time que perdia no apito, time sem sorte. Não importava a uruca que parecia engolir de cabo a rabo as equipes regidas sob a batuta de Cuca: técnico azarado, técnico sem pulso, técnico que não ganhava. Tudo isso ficou para trás. Era hora de reescrever a história do Atlético. E, na primeira fase, com os endiabrados Ronaldinho Gaúcho, Bernard, Tardelli e Jô, artilheiro do torneio, com 7 gols, uma campanha quase perfeita do melhor time brasileiro na Libertadores deu o pontapé inicial da arrancada.

Novamente pelo caminho estava o São Paulo, de cara, nas oitavas. A única derrota até então, no último jogo da fase de grupos, foi marcada por uma declaração forte de Ronaldinho. “Isso aqui foi só um treino. Quando tá valendo, tá valendo.” O craque tinha razão. Tanto no Morumbi quanto no Independência, o Galo aniquilou o tricolor paulista, fechando com uma goleada por 4 x 1. Afinal, “caiu no Horto, tá morto”, dizia o lema da massa atleticana, que usou máscaras da morte para assombrar o Tijuana no jogo de volta das quartas de final.

Sem inspiração, o Galo tomou sufoco dos mexicanos e viu o primeiro milagre salvá-lo da degola. Victor defendeu o pênalti de Riascos aos 48 minutos do segundo tempo, levando a torcida ao delírio e o time à semifinal. Nesse dia, o Atlético começou a acreditar em santos e, principalmente, que podia ser campeão, contrariando todos os prognósticos. Diante do Newell’s Old Boys, jogo de ida na Argentina, tudo parecia acabado outra vez, com 2 x 0 de vantagem para os rivais. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, Cuca se apegou à fé e à mística do Horto para confiar até o fim na virada em Belo Horizonte.

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Na volta, Bernard logo abriu o placar, mas, até um apagão cair dos céus no estádio, a Libertadores estava perdida. Até que Cuca resolveu colocar em campo o desacreditado Guilherme, que, com um chutaço de fora da área, marcou o gol salvador que levou o jogo para os pênaltis. Ali, o goleiro, abençoado pelo terço arremessado por um torcedor no gramado, intercedeu com mais uma obra divina. Mesmo depois de dois erros atleticanos nas cobranças, ele pegou o pênalti de Maxi Rodríguez e garantiu a vaga na finalíssima. Nas arquibancadas do Independência, a torcida alvinegra canonizou um novo santo brasileiro: São Victor.

Com a graça alcançada, muitos poderiam imaginar que a cota de milagres do Galo havia se esgotado. Ainda mais com um novo 2 x 0 no jogo de ida, agora para o Olimpia, tricampeão continental, com um gol de falta no último lance da partida. Cruel, porém a fé de Cuca e dos quase 60 000 torcedores que lotaram o Mineirão permanecia inabalável. O amuleto cultivado pelo técnico contra o mau agouro estava no vestiário minutos antes da decisão: a bola defendida pelo pé esquerdo de Victor diante do Tijuana. Mas o Atlético precisava de mais de uma bola para virar o jogo. Precisava de no mínimo dois gols e toda a sorte do mundo.

A penitência durou um tempo inteiro.  No primeiro minuto da segunda etapa, após falha de Pittoni, a bola sobrou limpa para o artilheiro Jô tirar a agonia dos atleticanos da garganta. O santo forte, entretanto, fraquejou quando Ferreyra passou por Victor e, com o gol aberto, escorregou antes de executar o disparo que seria fatal. Cinco minutos depois, aos 41, Bernard descolou um cruzamento milimétrico para Leonardo Silva se redimir de todos os seus pecados ao marcar de cabeça. Explosão e crença renovada no Mineirão. Com o empate na prorrogação, restou a São Victor parar a primeira cobrança de pênalti de Miranda com seu pé esquerdo abençoado e secar o chute derradeiro de Giménez, que morreu na trave.

Mais um milagre aconteceu. Nada é impossível para aqueles que creem no Galo, como Bernard e sua incrível profecia. “Este é o ano do Galo, podem apostar”, foram as primeiras palavras do baixinho em 2013. O clube de uma torcida apaixonada, devota, que tem o manto preto e branco como religião, não merecia ficar tanto tempo sem um título de expressão. Justiça seja feita: o Atlético campeão da América é uma benção dos deuses do futebol.


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Cruzeiro, Mineirão

Uma questão de estrutura

No fim do ano passado, Ronaldinho já havia dito ao blog que a estrutura da Cidade do Galo estava diretamente relacionada à sua chegada ao Atlético e à subida de produção pós-Flamengo.

Agora é a vez de Diego Souza, principal contratação do Cruzeiro para esta temporada, se derreter pelas modernas instalações da Toca da Raposa II.

“Poder trabalhar em um clube bem estruturado faz uma diferença enorme. Se o Vasco tivesse a estrutura do Cruzeiro, teria conquistado mais títulos”, afirma o meia à PLACAR de março.

Diego Souza atacante do Cruzeiro

Na entrevista, o camisa 10 celeste também revela que a nova casa do Cruzeiro pesou na decisão de aceitar a proposta do clube.

“Com a volta do Mineirão, o torcedor fica mais próximo, enche o estádio. As outras equipes chegam com mais respeito.”

Diego ainda avalia que o pedido feito a Alexandre Kalil para sair do Atlético em 2011 foi “uma escolha fantástica”, devido ao período de ostracismo que vivia no banco do Galo. Entretanto, não deixou de exaltar a virtude que mais lhe chamou a atenção durante a passagem pelo rival.

“O Atlético é incrível, tem uma grande estrutura. O Cruzeiro, também. Poucos clubes no Brasil oferecem essa tranquilidade para o jogador trabalhar.”

Os discursos de Ronaldinho e Diego Souza já viraram clichês, é verdade, mas traduzem uma realidade comum aos dois maiores clubes de Minas.

Embora não tenham estádio próprio, tanto Cruzeiro quanto Atlético se dão ao luxo de seduzir craques e lutar de igual para igual com gigantes do futebol brasileiro na hora de contratar medalhões com um argumento que soa como música aos ouvidos de empresários e boleiros: “Sim, nós temos estrutura”.

Atlético-MG, Ronaldinho

Ronaldinho espeta Flamengo e elege CT do Atlético como motor de seu renascimento: “Dá gosto de treinar”

Ronaldinho anda muito benquisto. Não só pela torcida atleticana, que o alçou à condição de ídolo num piscar de olhos. Aonde chega, o craque faz roda com a boleirada.

Na cerimônia de entrega da Bola de Prata PLACAR, embora tenha ficado distante da trupe mineira composta pelos companheiros Leonardo Silva, Réver, Marcos Rocha e Bernard, o astro de boina, camisetão estampado e estilo irreverente era a grande atração.

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Seja cortejado por Neymar e Lucas ou cercado por Zé Roberto e Fred, com quem se comunica frequentemente para pegar dicas de bons restaurantes em Belo Horizonte, Ronaldinho comanda as resenhas com o sorriso cheio de dentes peculiar, que andava encovado nos tempos turbulentos da Gávea.

Zé Roberto e Ronaldinho não se desgrudavam. Durante a sessão de fotos para PLACAR, o atleticano azucrinou o ex-companheiro de seleção. “Zé, esse não é seu lado bom pra foto.” Meio sem jeito, o gremista passa a Bola de Prata para o braço esquerdo e faz outra pose. “Aí, Zé, agora sim. Seu lado bom é a canhota.”

Dono do pedaço, o meia do Atlético não mediu palavras nem mesmo para cornetar o buffet requintado da festa, que ia dos canapés de carpaccio ao ravióli de cordeio. “Meu irmão, jogador vem de favela, não come essas paradas, não!”, reclamou. “Cadê a coxinha, a empadinha, o pastel frito? É duro passar fome no primeiro dia de férias.”

Mas Ronaldinho não se queixa da vida que leva em BH nem mesmo das polêmicas do apito que acompanharam o time alvinegro durante o Brasileirão. Renovou contrato com o Atlético e pretende usufruir das benesses da Cidade do Galo por pelo menos mais um ano.

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Em entrevista ao blog, porém, ele deixa escapar alfinetadas ao ex-clube pelo qual, implicativamente, havia perdido o gosto de jogar e treinar.

No Flamengo, você foi criticado por se omitir em jogos importantes. Já no Atlético, o panorama mudou, e você se tornou protagonista em partidas-chave, como nos clássicos contra o Cruzeiro e diante do Fluminense…
É nessas horas que, pô, todo mundo diz: nos grandes jogos, a gente vê quem é quem. Por ser um dos mais velhos da equipe e ter de criar as jogadas, eu procurei chamar a responsabilidade e levar todo mundo junto.

Muita gente duvidou de que você voltaria a jogar em alto nível. As desconfianças serviram de motivação?
Ah, cara, eu gosto disso. É um incentivo a mais. As dificuldades me inspiram a buscar algo novo.

Você é movido por críticas, então?
Eu sempre fui assim. Se alguém falar de mim, mexe com meu brio. Se alguém me chutar, mexe com meu brio. Se alguém me empurrar, mexe comigo. Quando eu saí do Flamengo, falaram muita coisa, muita besteira a meu respeito. E eu consegui mostrar no Galo que estou bem, que continuo sendo decisivo e um dos melhores dos campeonatos nacionais.

O que mudou do Ronaldinho do Flamengo para o Ronaldinho do Atlético?
No Flamengo, nós também tínhamos um grupo bom, mas com uma estrutura completamente diferente. No Atlético, a estrutura faz com que um jogador machucado volte a jogar logo. O clube nos dá condições de manter um grupo de trabalho durante todo o ano. Dá gosto de treinar.

A estrutura do Atlético fez diferença na retomada de seu bom futebol, que resultou na conquista de sua primeira Bola de Ouro PLACAR?
Toda a diferença. Temos as melhores condições para trabalhar, fazer uma boa preparação, ter vontade de treinar, num bom centro de treinamento, num bom campo. Tudo isso influencia muito no resultado final. Quando recebo um prêmio como esse [Bola de Ouro] e paro para analisar o porquê disso, penso em todos esses detalhes que o Atlético me ofereceu.

Os erros de arbitragem tiraram o título brasileiro do Atlético?
Não gosto de falar sobre isso. Se tivessem errado a meu favor, eu não reclamaria. Agora, só porque foi contra mim, eu vou reclamar? Erros acontecem, coincidências existem. Méritos do Fluminense. Os caras fizeram uma campanha fora do normal. O que nos resta é pensar em melhorar a equipe para o próximo ano.

Atlético-MG

Revista inglesa compara Atlético Mineiro a time modesto da Escócia

A tradicional revista inglesa FourFourTwo dedicou oito páginas para a publicação de uma entrevista com Ronaldinho Gaúcho, feita quando o meia ainda era jogador do Flamengo.

Quando o correspondente da revista enviou o material à redação, Ronaldinho havia acabado de fechar contrato com o Atlético, no começo de junho.

Para não deixar passar batido o novo clube do astro, a FFT encaixou na edição uma foto de sua apresentação no Galo. Assumindo desconhecimento sobre o time mineiro, a revista o comparou, ironicamente, ao St. Mirren, um dos clubes mais antigos da Escócia, mas sem qualquer expressão no já inexpressivo campeonato local. Em 115 anos de história, a equipe nunca conquistou um título escocês.

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Mas, além do uniforme alvinegro, o St. Mirren guarda pequenos paralelos com o Galo. Tal qual o time atleticano, o modesto clube escocês vive longo jejum de títulos nacionais. Levantou seu último troféu há 25 anos, quando ganhou a Copa da Escócia, em 1987.

Em 2006, assim como o Atlético, o time conquistou a segunda divisão e voltou a figurar entre os “grandes” escoceses. No entanto, está longe de brigar nas cabeças. Aparece em 9º lugar no “Escocesão” 2012-13.

Semelhanças à parte, o Galo, hoje na luta para conquistar um título nacional depois de 41 anos, está longe de ser um St. Mirren, como brincou a FourFourTwo.

St Mirren: apesar de centenário, alvinegro da Escócia também vive jejum de títulos nacionais
St Mirren: apesar de centenário, alvinegro da Escócia também vive jejum de títulos nacionais

Publicada há três meses, a edição da revista ainda questionou se, ao fechar “um surpreendente contrato” com o clube alvinegro, Ronaldinho não estaria dando seu “último canto do cisne”.

Sem contar o ganho em exposição que proporcionou ao Atlético, que deve evitar novas “comparações” com St. Mirren’s mundo afora, Ronaldinho vem provando que ainda tem fôlego para cantar de galo por mais alguns anos.

Atlético-MG, Ronaldinho

Um “problema” chamado Ronaldinho

Pouco mais de um ano depois daquele jogo épico que terminou com vitória do Flamengo por 5 x 4 em cima do Santos, de virada, na Vila Belmiro, Ronaldinho Gaúcho voltou a receber nota 9,5 na Bola de Prata PLACAR.

BELO HORIZONTE/ MINAS GERAIS / BRASIL  (06.10.2012) Atlético x Figueirense - no Estádio Arena Independência - Campeonato Brasileiro 2012

Assim como na partida pelo time rubro-negro, o meia marcou três gols contra o Figueirense e foi o maestro do Atlético na goleada de 6 x 0 do último sábado. Ainda deu duas assistências, uma delas após arrancada do campo de defesa, digna dos tempos áureos de sua carreira na Europa.

Embora também tenha repetido a genialidade da cobrança de falta por baixo da barreira no Independência, Ronaldinho jogou ainda mais do que em sua exibição de gala na Vila Belmiro. Merecia nota 10? Não fosse a fragilidade do adversário, um atordoado Figueirense, vice-lanterna do Brasileiro, o camisa 49 teria levado nota máxima na Bola de Prata – pelo Flamengo, Ronaldinho fez sua melhor partida fora de casa, contra o Santos de Ganso e Neymar.

O torcedor rubro-negro que hoje vê seu ex-camisa 10 brilhar no Atlético, não só em jogos esporádicos, mas numa sequência convincente de boas atuações, deve coçar a cabeça tentando entender o que motivou a transformação do jogador. Na verdade, a mudança é circunstancial, mais relevante que o empenho de Ronaldinho por si só.

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O meia saiu escorraçado do Flamengo. Cobrou salários atrasados, colecionou faltas e atrasos a treinos, perdeu a motivação e entrou na Justiça contra o clube, que culpou o astro pelo desfecho melancólico de contrato.

Seu ressurgimento no Atlético prova que, apesar de ter pisado fora da linha na Gávea, a desorganização e falta de estrutura do time carioca contribuíram em boa parcela para o declínio de seu futebol.

A cada gol pelo Galo, Ronaldinho atesta que continua sendo um problema. Só para o Flamengo.

Atlético-MG, Ronaldinho

Daniel Nepomuceno, o candidato da massa atleticana?

Alexandre Kalil leva ao pé da letra a simpática alcunha popular que define a torcida do clube que dirige: “Massa do Galo”. É como os atleticanos se autointitulam.

Para “mexer” com sua massa, Kalil publicou vídeo na página oficial do Atlético no Facebook convocando a torcida alvinegra a “mostrar sua força” e pediu votos para o vice-presidente do clube, Daniel Nepomuceno (PSB), nas eleições municipais do próximo domingo.

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Daniel Nepomuceno (à esq.) entrega honraria a Ronaldinho, ponto alto de seu mandato como vereador

Como presidente do Galo, Kalil tem direito de apoiar quem quiser, ser cabo eleitoral do candidato que bem entender, embora os poucos oposicionistas que tem no Conselho o critiquem por partidarizar a diretoria atleticana com aliados do governo mineiro e da prefeitura.

O que fica nas entrelinhas, no entanto, sempre que clubes de futebol se transformam em palanques, é a suposta ideia de que o político indicado trabalhará de acordo com os interesses do time que o apadrinha na esfera pública.

Primeiramente, quem usa seu voto com a intenção (ou a ilusão) de beneficiar o próprio clube não é torcedor, mas sim tão oportunista e comodista quanto políticos que dependem da paixão pelo futebol para se eleger. Some-se a isso o fato de dirigentes e cartolas serem figuras clubísticas, alheias, na maioria dos casos, ao interesse público.

Em 1994 e 1998, o ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda, elegeu-se deputado federal pelo Rio de Janeiro com votações expressivas, sob o argumento de que defenderia o clube de São Januário no Congresso. Não fez nada nem pelo Vasco nem pelo povo. Dois mandatos desperdiçados pelo incauto “voto-torcedor”.

O candidato de Kalil tenta renovar seu mandato na Câmara Municipal de Belo Horizonte, onde caiu de paraquedas em 2010, quando assumiu a cadeira de vereador como suplente no lugar do cassado Wellington Magalhães (PMN).

De acordo com ranking divulgado pela VEJA BH há duas semanas, Daniel Nepomuceno aparece entre os seis piores vereadores da capital. Foi campeão em um dos quesitos: menor média de assiduidade na Câmara. Compareceu a apenas 17% das sessões plenárias.

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Ainda registrou uma das maiores evoluções de patrimônio entre os candidatos avaliados (341%) – não por acaso foi inicialmente favorável à proposta de aumento salarial de 61,8% para os vereadores – e ganhou nota zero no quesito “fiscalização e controle” – não cumpriu o papel de policiar o poder público que, coincidência ou não, está nas mãos do prefeito Márcio Lacerda, candidato de seu partido à reeleição.

Fez algo pelo Galo? Fez. Concedeu o título de cidadão honorário a Ronaldinho Gaúcho em solenidade na Câmara em julho. Jogou para a torcida e agora quer colher os frutos nas urnas.

Com Ronaldinho e companhia, o torcedor atleticano tem sido bem representado nos gramados. Não se pode dizer o mesmo, entretanto, na eleição deste ano.